Desembargadora Maria Berenice Dias ministra aula inaugural dos cursos de Direito da Urcamp reunindo 500 espectadores 

Famílias se escreve com S. Esse foi o tema da Aula Inaugural integrada dos cursos de Direito da Urcamp, que aconteceu na noite desta quinta-feira, 28, reunindo docentes, discentes e profissionais da área jurídica das cidades de Bagé, Alegrete, Santana do Livramento e São Gabriel, no YouTube da Instituição de Ensino. A palestra foi ministrada por Maria Berenice Dias, advogada, primeira mulher a ingressar na magistratura gaúcha e primeira desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul.

O evento foi conduzido pelos coordenadores dos cursos de Direito da Urcamp dos campi de Bagé, Alegrete, Santana do Livramento e São Gabriel, respectivamente, professores Heron Vaz, Fabiane Segabinazzi, Iara Lappe e Ana Paula Torres. A abertura contou com uma mensagem da presidente da Fundação Attila Taborda e reitora da Urcamp, professora Lia Maria Herzer Quintana, que, em razão de compromissos anteriormente agendados, não pode estar presente na live, mas registrou suas boas-vindas à desembargadora aposentada do TJ-RS. Logo em seguida, antecedendo à fala da palestrante, o procurador geral da FAT, Dr. Álvaro Pimenta Meira, proferiu sua manifestação quanto à importância da Aula Inaugural para a futura carreira dos acadêmicos.

Do início ao fim, cerca de 500 pessoas estiveram conectadas à live que, até sexta-feira à tarde, já registrava mais de 1.300 visualizações. O diálogo claro e preciso, fez com que Maria Berenice Dias captasse a atenção dos internautas, que registraram suas mensagens de agradecimento pela presença da magistrada. Famílias se escreve com S foi a pauta principal, onde a advogada traçou sua narrativa sobre a longa linha do tempo no conceito jurídico e de sociedade sobre as relações familiares.

A sempre desembargadora abriu a Aula Inaugural registrando a importância deste diálogo. “Pra mim não tem maior significado do que falar, conversar, com quem escolheu o direito como o meio da sua vida profissional, seja a atividade que for desempenhar depois disso, que pode ser fora do direito, certamente o direito marcará a vida de vocês para sempre, porque ninguém entra na faculdade de direito se não tiver desconfortável com o que está torto. E é essa inquietação que move a mudança do mundo”. Ainda no início de sua fala, contou: “Como eu fui vítima de muita discriminação para poder entrar na justiça como magistrada, porque não aceitavam mulheres naquela época, a discriminação me dói. E onde eu enxergo algum traço de invisibilidade, de rejeição, de virarem o rosto, de não dar voz, nem dar vez, lá estou eu”.

Com toda sua história dedicada, de corpo e alma, ao universo jurídico, Maria Berenice Dias explica a sua aposentadoria do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. “Eu tenho um enorme orgulho de ser bacharel em direito, de ter dedicado a minha vida inteira ao direito, primeiro a magistratura, e sair da magistratura exatamente para poder advogar para um segmento que sempre foi invisível que é o direito homoafetivo, essa expressão que eu acabei cunhando para que as pessoas saibam que é possível reconhecer o direito, foi isso que me moveu. Eu poderia estar até hoje dentro do Tribunal, mas esta inquietude que vocês têm da juventude, eu tenho até hoje”.

Maria Berenice Dias é advogada, especializada em Direito Homoafetivo, Direito das Famílias e Sucessões, mestre e pós-gradua em Processo Civil. Atualmente é desembargadora aposentada do TJ-RS, vice-presidente nacional do Instituto Brasileiro de Direito da Família (IBDFAM), do qual é uma das fundadoras,presidente da Comissão de Direito Homoafetivo e Gênero do IBDFAM, presidiu a Comissão Especial da Diversidade Sexual do Conselho Federal da OAB e instalou mais de 200 Comissões em todo o país, participa do projeto Crianças Invisíveis, que busca agilizar os processos de adoção, é sócia-fundadora da ABRAFH – Associação Brasileira das Famílias Homoafetivas, criou o JusMulher – serviço voluntário de atendimento jurídico e psicológico às mulheres vítimas de violência doméstica -, participou da elaboração da Lei Maria da Penha e da Alienação Parental, foi a única gaúcha indicada pelo Projeto “1.000 Mulheres para o Prêmio Nobel da Paz 2005″, é Cidadã Honorária de Porto Alegre-RS, São Borja-RS, Paraíba-PB e Rio de Janeiro-RJ, recebeu o prêmio Direitos Humanos 2009 - categoria: Garantia dos Direitos da - População LGBT, a mais alta condecoração do Governo Brasileiro outorgado pelo Presidente da República, recebeu a Comenda de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara, conferido pelo Senado Federal, e é autora de diversos livros e centenas de artigos, além de coordenar e participar de diversas obras coletivas.

Ao fim da  palestra, que está disponível no YouTube da Urcamp, no canal @UrcampOficial, seis acadêmicos - inscritos no evento - foram sorteados e contemplados com obras de Maria Berenice Dias.