Clube Comercial é oficialmente entregue para a Prefeitura de Bagé com o auxílio de docentes da Urcamp
Clube Comercial é oficialmente entregue para a Prefeitura de Bagé com o auxílio de docentes da Urcamp
Após mais de seis meses de negociação, a compra do Clube Comercial, pela Prefeitura de Bagé, foi efetivada ontem. Durante uma live, realizada na página do chefe do Executivo nas redes sociais, no início da tarde, Divaldo Lara recebeu oficialmente o prédio que abriga, desde a década de 1930, o centenário clube social, dissolvido no segundo semestre de 2019. O prefeito reafirmou a intenção de continuidade das ações voltadas à cultura: "O Clube Comercial conta a história de milhares de famílias bajeenses e continuará de portas abertas, recebendo, servindo e acolhendo a todos. É um patrimônio cultural do município e deve ativamente fazer sua parte". A ideia do gestor é que o prédio mantenha ações voltadas à cultura e turismo. A aquisição foi possibilitada com recursos na ordem de R$ 700 mil, recebidos pelo município através da partilha do Pré-Sal com uso específico para aquisição de patrimônio. Como o Clube Comercial possui dívidas tributárias e, com o próprio município, de cerca de R$ 2 milhões, o valor será pago em uma figura jurídica chamada de assunção de débito, na qual a Administração Pública passa a ser a devedora das pendências, podendo parcelar em várias prestações e abatendo o valor que o clube deve para o município. Os outros R$ 5 milhões da negociação serão abatidos dos valores utilizados em contrapartida de emendas parlamentares, sendo investidos no próprio município nas áreas da saúde e educação. O chefe do Executivo explicou, ainda, que a próxima etapa será a criação de uma comissão que irá gerir a comercialização dos espaços internos, caso tenham interessados para montar um restaurante ou cafeteria no local, além do aluguel para festas e eventos. A secretária de Cultura e Turismo, Anacarla Oliveira, comemorou a aquisição. “Será mais uma estrutura que poderemos utilizar para os mais variados fins, mas, principalmente, para a Cultura, pois o local atende requisitos para apresentações musicais, espetáculos, exposições, dentre muitos outras, e não só da cultura, mas também de outras áreas". E adiantou a intenção de transferir a sede da Secretaria de Cultura, hoje instalada no Palacete Pedro Osório, para a estrutura do clube. O ex-presidente da entidade e responsável pela comissão de transição do clube, Roberto Bandeira, definiu o momento como "muito feliz", já que, com venda do espaço físico, "vamos conseguir perpetuar o nome do Clube Comercial em ações na área da Saúde e Educação". O ato também contou com a presença e depoimento das seguintes autoridades: presidente do Núcleo de Engenheiros e Arquitetos de Bagé (Neab), Antônio Arla; presidente da Associação Pampa Gaúcho de Turismo (Apatur), Clori Peruzzo e a presidente do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental do Município de Bagé (Compreb), Núbia Margot Jardim.
Docentes da Urcamp deram início às mobilizações Logo que surgiram as primeiras menções à dissolução do clube e venda do prédio, um grupo de professores dos cursos de Arquitetura e Engenharia Civil da Urcamp se mobilizou em defesa do patrimônio histórico e cultural do município. A comissão, encabeçada pelo engenheiro Emílio Mansur, contou também com a atuação de Ronald Rolim, Daniela Giffoni, Maria de Fátima Barbosa, Magali Collares, Marília Barbosa e Núbia Margot Jardim. Mansur explica que o projeto de resgate do Comercial "surgiu em consequência ao novo modelo de ensino da Urcamp, isto é, projeto integrador e ensino baseado no currículo por competência". Logo que soube da possibilidade de venda do prédio, a comissão buscou apresentar uma solução viável economicamente a fim de evitar o desvio de função da estrutura, até então dedicada a atividades de cultura, arte e lazer. Mansur relata que os professores e acadêmicos dos dois cursos deram início ao estudo de um financiamento do empreendimento chamado Equity CrowdFunding, possibilitando à comunidade adquirir cotas para o desenvolvimento de projetos autossustentáveis junto ao clube, disponibilizando o espaço para convivência social através da abertura de salas comerciais, de lazer e espaço de alimentação. Através da alternativa sugerida pelo grupo, além da preservação do patrimônio histórico do Clube Comercial, também abriria o leque de possibilidades para a entidade, que passaria a ter caráter comercial, com retorno e envolvimento direto junto à comunidade. O projeto foi apresentado para a Associação Comercial e Industrial de Bagé e Ministério Público em novembro do ano passado. Em dezembro, em parceria com o Núcleo de Engenheiros e Arquitetos de Bagé (Neab), foi realizado o abraço simbólico ao clube com o intuito de mobilizar a comunidade. Nesta ocasião, o prefeito anunciou a intenção de compra do prédio. Com a homologação da aquisição, o grupo acordou com a gestão municipal que o processo seja executado entre as duas partes, com reestruturação que permita as atividades culturais e comerciais. Este último item busca dar viabilidade econômica ao projeto, tornando o clube autossustentável. Além disso, o município e a comissão acordaram que recursos serão buscados junto aos Ministério da Cultura, Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan) e demais órgãos, podendo ser complementados com a parceria público-privada. Mansur aponta que, como se trata de uma proposta exclusiva e única e que servirá como modelo a outros clubes, todos os projetos e serviços desenvolvidos pela equipe serão remunerados. Além disso, foi sugerido alguns usos para o local como instalação do Instituto Municipal de Belas Artes, Casa do Empreendedor, além de espaços dedicados a auditório para eventos e gastronomia. Isso tudo mantendo o patrimônio histórico preservado. O engenheiro ressalta, ainda, o caráter comunitário, social, cultural e, principalmente, filantrópico das ações: "Será transformado em um prédio vivo, onde as pessoas circulem, trabalhem. Esta é a oportunidade de melhorar não só o prédio, mas a nós mesmos e à nossa cidade. Pois uma cidade, antes de ser feita de prédios, é feita por pessoas".