Jornada sobre Autismo da Urcamp discute cuidado multidisciplinar e inclusão
A 2ª Jornada sobre Autismo – Edição Multidisciplinar: Um olhar por trás do manifesto, realizada na sexta-feira, 27, e no sábado, 28, reuniu acadêmicos, professores, profissionais da área da saúde e educação, além de familiares e interessados na temática. Promovido em uma parceria entre o curso de Psicologia da Urcamp, por meio do Núcleo de Autismo (NAU), e o Instituto Plural, o evento buscou aprofundar o debate sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) sob diferentes olhares, fortalecendo a integração entre as áreas da saúde, educação, direito e sociedade.
A abertura da Jornada ocorreu na noite de sexta-feira, em formato online, com a palestra da psicopedagoga Gilvane Teresina Savariz Zilli, que apresentou um caso clínico em psicopedagogia. A atividade trouxe reflexões sobre as práticas no atendimento de crianças com TEA, abordando estratégias terapêuticas, construção de vínculos e os desafios que permeiam o processo de aprendizagem.
No sábado, a programação foi presencial, no Salão de Atos do Campus Central da Urcamp, com atividades ao longo de todo o dia. A palestra de abertura foi conduzida pela psicopedagoga Débora Mattos, que falou sobre o tema “Saúde, Família e Educação: A força do cuidado integrado no Transtorno do Espectro Autista”. Ela destacou a importância da atuação conjunta entre os profissionais da saúde, da educação e da rede de apoio familiar para promover o desenvolvimento e a qualidade de vida das pessoas com TEA.
Na sequência, o professor e psicanalista Cláudio Louzada apresentou a palestra “A abordagem psicanalítica: vendo além dos sintomas”, propondo uma reflexão sobre o autismo para além do diagnóstico biomédico. Louzada defendeu que é fundamental compreender o sujeito em sua singularidade, valorizando seus modos próprios de existir, e não apenas enquadrá-lo dentro dos critérios diagnósticos.
Ainda pela manhã, a advogada Taiani Corrêa abordou o tema “Direitos da Pessoa com Autismo: do diagnóstico à garantia legal”, trazendo informações essenciais sobre a legislação vigente, como a Lei nº 12.764/2012, conhecida como Lei Berenice Piana, que assegura direitos às pessoas com TEA. Ela ressaltou a importância de que famílias e profissionais conheçam seus direitos para garantir acesso à saúde, educação e inclusão social.
O encerramento do turno da manhã foi com o relato de Lilian Nogueira, mãe de uma criança autista, que apresentou a palestra “Meu filho, minha jornada: construção de uma identidade além do autismo”. Em um momento marcado por muita sensibilidade, Lilian compartilhou sua experiência pessoal, abordando os desafios, as conquistas e o processo de ressignificação da maternidade a partir do diagnóstico do filho.
Durante a tarde, o evento seguiu com a palestra da pedagoga Rita de Cássia Cabral Sarate, que trouxe reflexões sobre a “Prática pedagógica transdisciplinar na educação inclusiva”, defendendo a importância de uma atuação que ultrapasse os limites das disciplinas e que integre saberes para atender de forma efetiva às necessidades dos alunos autistas.
O médico-psiquiatra e professor do curso de Psicologia da Urcamp, Sérgio Keske, deu sequência ao evento com a palestra “Intervenção versus medicação: quando intervir e quando medicar”, discutindo as fronteiras e os cuidados na tomada de decisões clínicas. Keske alertou sobre os riscos da medicalização excessiva e destacou que a intervenção terapêutica, quando bem conduzida, pode reduzir significativamente a necessidade do uso de medicamentos em muitos casos.
Na palestra seguinte, a fonoaudióloga Carolina dos Santos Almeida falou sobre “Comunicação alternativa e precoce para desenvolvimento da autonomia”, destacando ferramentas e estratégias que possibilitam às pessoas com TEA ampliarem sua comunicação, mesmo quando a linguagem verbal não está presente, favorecendo sua autonomia e inclusão.
A nutricionista Bárbara Sarate abordou a temática “A importância da transdisciplinaridade no manejo nutricional”, ressaltando como uma alimentação adequada pode impactar positivamente o desenvolvimento, o comportamento e a qualidade de vida de pessoas com autismo. Ela também destacou a importância da escuta ativa das famílias e da personalização dos atendimentos.
A penúltima palestra foi com a educadora física Melissa Fagundes, que trouxe o tema “Da teoria ao chão da escola: o que realmente vivemos?”. Ela propôs uma reflexão fundamental sobre os desafios da inclusão na prática cotidiana, tanto na parte estrutural e de formação dos profissionais quanto do acompanhamento familiar para a implantação de práticas adequadas na área da atividade física.
O encerramento da jornada ficou por conta da professora Sílvia Cristina de Vargas Ollé, coordenadora do curso de Psicologia da Urcamp, que apresentou a palestra “TEA é Plural: Um espectro de possibilidades e vidas”. Sílvia ressaltou que é preciso olhar para o autismo não apenas como um diagnóstico, mas como uma expressão diversa de existência. Ela defendeu a necessidade de quebrar estigmas e compreender o TEA como um espectro de múltiplas potencialidades e formas de ser.
O legado das discussões
De acordo com Sílvia, a realização da jornada reflete o crescimento das discussões sobre autismo na instituição e na comunidade. “A ideia de promover a jornada surgiu ainda em 2024, a partir da percepção do aumento significativo dos diagnósticos de TEA e da necessidade de ampliar a formação dos nossos acadêmicos. Essa construção se fortaleceu com a criação do Núcleo de Autismo da Urcamp (NAU) e também com o Instituto Plural, que nasce para ser um espaço de diálogo e estudo multiprofissional. Nossa proposta é justamente integrar diferentes saberes e fortalecer uma atuação que seja, de fato, mais humana, sensível e eficiente”, destacou.
Ela também explicou que a proposta do evento vai ao encontro das transformações que vêm sendo implementadas na gestão do curso de Psicologia. “Criamos o LAEPSIC, nosso Laboratório de Estudos, Pesquisa e Psicologia e Psicanálise, e já temos projetos que vêm se consolidando, como é o caso do NAU. Isso reflete na formação dos nossos alunos, na qualidade dos estágios, dos projetos de extensão e, principalmente, na contribuição social que o curso oferece”, enfatizou.